Regime Alimentar, Navios e Organizações

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Quando uma pessoa decide perder peso, seja por razões estéticas ou por recomendação médica, o foco dos seus esforços se direciona, em geral, para duas variáveis que têm grande influência neste processo: o quanto ingere de alimentos, em termos de frequência, quantidade e qualidade, e o quanto gasta de energia calórica, por meio de exercícios.

No equilíbrio desta relação, está o segredo do sucesso para que ela alcance o objetivo de chegar ao perfil físico desejado. Claro que falo aqui de situações em que não haja comprometimento de aspectos de saúde que exijam indicações terapêuticas específicas, situação em que não basta apenas adotar um plano alimentar mais saudável associado a atividades físicas.

Mas afinal, e as organizações, como entram nessa história?

A decisão de emagrecer pode se dar em função do enfrentamento de uma situação indesejada ou adversa, que requer ações no sentido de reverter certa situação ou tendência, de modo a alcançar um determinado objetivo.

No atual momento econômico brasileiro, ainda recessivo, um número nada desprezível de organizações também encara o desafio de manter sua boa forma econômico-financeira, superando um cenário bastante desfavorável: altas taxas de juros, indisponibilidade de crédito, inflação elevada e mercado retraído, com impacto direto em suas receitas.

Embora alguns economistas já apontem para a possibilidade de termos indicadores um pouco mais alvissareiros ainda este ano, exceto no tocante ao patamar de desemprego, que deve continuar girando em torno dos 12%, o dia a dia das empresas ainda deve permanecer difícil por mais um bom tempo. Vale lembrar que o atual ciclo recessivo brasileiro, iniciado no segundo trimestre de 2014, acaba de se tornar o segundo pior da história, nos critérios de duração em trimestres e de tamanho da queda acumulada do PIB (7,9%).

Neste contexto adverso, o que fazer? Cabe ao gestor, seja de um pequeno negócio ou de uma grande corporação, envidar seus melhores esforços para aprimorar o ingresso, não de alimentos, mas de receitas (sempre difíceis em momentos recessivos) e, principalmente, buscar a redução, não de energias calóricas, mais de dispêndios desnecessários. As suas “gorduras”.

Compete ao administrador dar curso a uma estratégia que possa permitir à organização alcançar seus objetivos de curto, médio e longo prazos, tal qual o comandante de um navio que, mesmo atravessando intempéries e mar bravio, e desejando chegar a um determinado porto, avança, progressivamente, à medida do possível, em sua direção.

Aproveitando oportunidades e contornando ameaças, reforçando pontos fortes da organização e lidando com seus pontos fracos, o gestor deve levar seu barco adiante, rumo ao ponto futuro desejado, atravessando as dificuldades momentâneas e pronto para navegar por mares mais favoráveis à frente.

Internamente à empresa, a gestão de suas atividades ganha uma dimensão especial nestes momentos de crise porque sempre é possível aumentar o nível de eficácia de fluxos processuais. Deve-se, periodicamente, revisar a estrutura e a dinâmica organizacional, estudando formas de redução de custos, gerando ganhos de resultados, seja com o emprego de recursos próprios, seja com o auxílio de uma consultoria externa, contratada para este fim.

No intuito de melhorar a eficácia dos referidos processos, adicionalmente, revela-se de suma importância a definição e o cuidadoso monitoramento de indicadores de desempenho. É por demais conhecida a máxima de que “quem não mede não gerencia”. Ou, em outras palavras, se o responsável por um fluxo processual não efetua medições periódicas de seu andamento, ele pode estar fazendo qualquer outra coisa, menos gerenciando.

Neste ponto, compartilho com o leitor um comentário, que costumo reproduzir em aulas e reuniões de trabalho, e que ouvi certa vez de um executivo, quando falávamos sobre a importância de medir processos.  Segundo aquele gestor, sempre que um amigo ou conhecido seu dizia estar iniciando um regime alimentar, ele, de pronto, perguntava: “já comprou uma balança? ”

A lógica de seu raciocínio era exatamente a que mencionei: para que alguém possa, de fato, gerenciar algo, mesmo a sua redução de peso (retornando ao início deste texto), além de adotar as ações pertinentes, é necessário que se meça periodicamente o processo e que se comparem os resultados obtidos com parâmetros previamente definidos. Só assim o gestor pode saber se seu barco está indo na direção pretendida ou se precisa realizar ajustes para que ele alcance o seu destino. Pode ser necessário jogar cargas ao mar. Ou eliminar gorduras.

Autor: Roberto Ribeiro

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