COACHING – Que confusão foi essa?

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O coaching não pode mais ser considerado uma novidade, mas o fato é que ainda restam muitas dúvidas a respeito do processo: o que é, quais seus principais benefícios e quais as principais competências do profissional (Coach), dentre outras.

Recentemente houve uma polêmica em torno do assunto, causada por uma ação de merchandising em uma novela de uma grande emissora de TV, e acho que nunca é demais contribuir para que as coisas fiquem claras.

Na cena mencionada, foi sugerido que uma personagem, que teria sido abusada sexualmente pelo padrasto na infância, poderia ser tratada por sua advogada e coach com sessões de hipnose.

Obviamente, a cena causou reação do Conselho Federal de Psicologia, que afirmou: “pessoas com sofrimento mental, emocional e existencial intenso devem procurar atendimento psicológico com profissionais da Psicologia, pois são os que têm a habilitação adequada”.

Cabe ressaltar que também gerou descontentamento na comunidade de Coaches que não concordam com algumas distorções existentes no mercado.

Em qualquer profissão existem bons e maus profissionais. Boas instituições formadoras e outras nem tanto. No caso do coaching não é diferente.

Se em profissões há muito tempo reconhecidas, que contam com Conselhos Federais e Regionais para disciplinar e fiscalizar sua atuação profissional, percebe-se por vezes certas zonas cinzentas envolvendo procedimentos situados na área de competência de mais do que apenas uma profissão, imagine o caso de uma atividade surgida há relativamente pouco tempo no Brasil, ainda não devidamente regulamentada.

Cabe aos bons profissionais atuar dentro de padrões éticos elevados e contribuir para o desenvolvimento do ramo em que atuam, com responsabilidade e respeito aos clientes e aos demais profissionais de outras áreas.

Quando buscava uma formação em Coaching, li vários livros sobre o tema e procurei analisar diversas instituições antes de definir em qual delas realizaria meu curso.

Hoje estou feliz com minha escolha, não apenas pela formação consistente e coerente, mas também pela postura adotada pelo Presidente da Sociedade Latino Americana de Coaching (SLAC) – onde fiz minha formação – diante dos recentes eventos. Ele veio a público manifestar sua posição contrária ao que foi apresentado no programa de TV, uma vez que o processo de Coaching deve se ater à evolução e desenvolvimento do Coachee sem utilizar qualquer forma de indução. Além disso, se o indivíduo quiser trabalhar alguma questão que esteja relacionada a uma cura, a um aspecto emocional, relacionada com alguma situação passada, não será com o processo de Coaching que irá resolver a questão. Coaching está relacionado com construir um futuro a partir do planejamento, da definição de objetivos e metas e com ações que levem o coachee ao estado desejado. (link para o webinar – As Discrepâncias sobre o que é Coaching)

Mas, vamos à resposta à pergunta do título.

O que é Coaching?

Embora existam várias definições para o termo Coaching. Nós da SLAC adotamos a seguinte:

“Coaching é um processo de desenvolvimento humano, pautado em diversas ciências e técnicas para auxiliar as pessoas e empresas no alcance de metas, no desenvolvimento acelerado e em sua evolução contínua.”

O processo de Coaching é baseado no diálogo entre o profissional (Coach) e o cliente (Coachee), onde o Coach estimula o Coachee, a partir de questionamentos, a definir suas metas e elaborar e implementar as ações que o levarão a alcançá-las.

Observe que cabe ao Coachee definir as metas, ações e qualquer outra questão dentro do processo. Ao Coach compete prestar suporte proporcionando um clima de confiança e elaborando as questões que levarão seu cliente a refletir profundamente sobre qual o seu estado desejado, suas metas, a realidade na qual está inserido, suas opções e suas escolhas.

Algumas questões mercadológicas, que criam “nomes” relacionados com os nichos em que os profissionais pretendem atuar (ex.: Coaching de Emagrecimento, Coaching Financeiro, Coaching de Relacionamentos, dentre outros), acabam por contribuir para uma maior dificuldade de entendimento por parte do público em geral. O que pretendo dizer é que o profissional Coach não necessariamente deve ser especialista no tema definido pelo seu Coachee como prioridade. As competências de um Coach estão relacionadas com a aplicação da metodologia e não com as aptidões que devem ser desenvolvidas pelo Coachee.

Nos exemplos citados no parágrafo anterior, podemos verificar que os “nomes” costumam estar relacionados com os objetivos pretendidos pelo cliente e não devem significar mudanças na metodologia aplicada. É claro que algumas ferramentas utilizadas para dar suporte às sessões podem ser mais específicas com o objetivo de facilitar a obtenção dos resultados pretendidos, mas a metodologia deve permanecer inalterada. Em todos os casos a dinâmica deve ser a mencionada acima: O Coachee deverá definir estado desejado, metas, identificar a realidade na qual está inserido, opções disponíveis e escolhas a serem adotadas.

Um Coach deve ser capaz de ouvir atentamente, exercitar a empatia, respeitar diferenças de percepções e posicionamentos pessoais, se comunicar de maneira clara e assertiva. Deve ter foco nos resultados, nas soluções e não nos problemas, ser flexível, criativo e inovador. Essas e outras características darão ao profissional a condição de melhor compreender o contexto no qual o Coachee está inserido, e a partir dessa compreensão elaborar os questionamentos que mais possam contribuir para a reflexão de seu cliente.

O que não é Coaching?

Agora vamos entender o que não é Coaching, na medida em que isso pode ajudar bastante a entender as reações ao que foi divulgado na novela: Coaching não é consultoria, não é treinamento, não é aconselhamento e também não é terapia:

  • Consultoria envolve a realização de determinadas atividades por um especialista no tema em questão. Em um processo típico de consultoria cabe ao consultor levantar dados, realizar diagnóstico, propor soluções e apoiar a implementação das ações pelo cliente;
  • Treinamento envolve a transmissão de conhecimentos específicos a fim de melhor capacitar o cliente para a realização de alguma, ou algumas, atividades;
  • Aconselhamento é o ato de dar conselhos, orientações e encaminhamentos com o objetivo de auxiliar na tomada de decisões; e
  • Terapia, ou terapêutica, significa o tratamento para uma determinada doença, ou distúrbios, sejam eles físicos, psíquicos ou mentais. Tais tratamentos podem estar relacionados com a medicina tradicional ou outras formas alternativas. No caso da psicoterapia, trata-se de uma ocupação atribuída ao Psicólogo Clínico, conforme Classificação Brasileira de Ocupações do Ministério do Trabalho.

Como pode se verificar na leitura dos parágrafos acima, o processo de Coaching não deve ser confundido com outras áreas de atuação que se propõem a contribuir para o desenvolvimento de pessoas e mesmo de organizações. Cada uma tem sua importância e sua aplicabilidade, de acordo com o contexto no qual está inserido o cliente.

Pode misturar tudo?

Muitos profissionais são capazes de exercer mais de um papel, por sua experiência e formação, mas devemos tomar cuidado para não misturar as coisas.

Mesmo um Coach que tenha formação em psicologia clínica, o que o habilitaria a praticar a psicoterapia, deve tomar o cuidado de não atuar como Psicoterapeuta durante o processo de Coaching e vice-versa.

Nem sempre é fácil manter cada coisa no seu lugar. Sou administrador, exerci funções de alta gerência durante muitos anos, sou Consultor Organizacional e Coach. É preciso estar atento o tempo todo para não misturar os papéis.

Em consultoria costumamos dizer que é preciso resistir à “incrível vontade de sair fazendo”, afinal o Consultor não faz parte da organização cliente, portanto, não tem poderes para realizar nada. Para quem foi gestor, e focado em resultados, é um tremendo exercício.

Agora imagine, atuar como Coach e evitar de “dar palpites” nas escolhas do Coachee. É preciso! Do contrário, não estarei cumprindo o papel para o qual fui contratado e não darei a contribuição necessária ao desenvolvimento do Coachee.

Essa é uma grande questão, Coach não é contratado para resolver um problema do Coachee, e sim para prestar suporte ao desenvolvimento do seu cliente. Ao término do programa de Coaching, o Coachee deverá ter alcançado os objetivos por ele definido e estar apto a dar continuidade ao seu processo de desenvolvimento de forma autônoma.

Muitas vezes pode acontecer de ser necessário mais de um programa para que o Coachee alcance um nível de autonomia suficiente para dispensar o suporte de um Coach. Mas, esta autonomia é uma situação desejável.

Para concluir!

A busca por resultados cada vez maiores e mais rápidos, muitas vezes acaba por nublar a visão ética dos profissionais e faz com que limites sejam ultrapassados sem a menor cerimônia. Profissionais sérios e éticos, não podem permitir que distorções manchem a imagem daqueles que tanto se esforçam para contribuir para o desenvolvimento humano.

Com profissionalismo e ética conseguiremos resultados duradouros e muito mais gratificantes!

Espero ter contribuído para o entendimento do que é – e o que não é – Coaching.

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Abraço e sucesso!

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